quinta-feira, 26 de outubro de 2017

Ruva Nai II

Ruva Nai II


A tatuagem da tua memória é cravada no subsolo da minha pele:
Pois que nasça sangrenta porque desconheço o feitiço das cinzas
Que fluem nas entranhas das minhas vísceras!

O passar da mão pelo corpo, sentindo todo arrepiado,
Por tocar o mais intimo do prazer
E ver o teu sangue escorrer pelo inesperado da minha pele:

Era a saudade, um gosto doce que saboreava na boca,
Antes da saliva pelo desejo de te ouvir
Vociferar o parcialismo presente no resto do mundo.

Era o rasgar do universo de palavras sem sentido
Não vendo nos olhos sedentos do amor,
O percorrer deste logro com as mãos calvas de adornos
Enquanto bebíamos do surreal prazer do insignificante desejo.

Ai! Que carnificina no teu corpo virgem.
O teu cheiro no bafo deles, amolgando o meu corpo rijo
São os beijos doces no amargo dos meus dias
De facto, tudo dito e nada feito, boa noite meus senhores!


Pomea da obra: Ilhéu revolto

segunda-feira, 17 de julho de 2017

Tenho na boca

     Tenho na boca


Proibido desejei os lábios de cetim… 
Renegado pela consciência da mentira
Destruída do incorpóreo ser, e assim
Tudo no ouro arde quando o vento vira…

Refugiada na reluzente miragem, 
Soprava, no cântico dos vencidos,
A tua cianogénica imagem,
Pelos anseios em mim definidos.

Debaixo do teu infame olhar 
Escondeu-se do rosto o engano.
No virgem proscénio, o gosto humano 
De quem me queria amar

Mas, no corte abissal da minha boca
Jorrava do sangue a chama louca
Que algo mais que a saliva fizeram ter: 
- Em ti, o desejo e trono do prazer!


poema da obra: Ilhéu Revolto

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Chopin – Sonata Nº 2 em Si bemol menor Opus 35 (Marcha fúnebre do Tubarão com óculos de massa)

Chopin – Sonata Nº 2 em Si bemol menor Opus 35 
(Marcha fúnebre do Tubarão com óculos de massa)

Nas últimas gotas do cântico ilhéu
Espalha o sol, naquela tarde bucólica,
O toque do melífluo relógio pelo céu,
E o presságio libido da vontade fálica

Por debaixo dos óculos de massa
Observa obcecadamente a mão
Percorrendo de forma devassa
As teclas dicromáticas da solidão.

Com a outra, explora e acaricia
O corpo angelicalmente deitado
Sobre o leito, em que se delicia,
Atingindo o clímax com o seu amado

É uma tela de intermitente melodia canónica
Tocada nas aguarelas e pautas da clave de sol
Com instrumento e dedos em harmónica
Alcançando o seu desfecho no auge do Si bemol.


poema da obra: Ilhéu revolto