domingo, 26 de julho de 2015

Arquipélago nos Açores

     Arquipélago nos Açores


Por entre a mística de bruma da vontade atlântica
Ergue-se do mar revolto, Ilhas de pedra e lava vulcânica.
Envoltas em mistérios, cravados nas escarpas agrestes
Crescem, no basalto, verdes e fortes os ciprestes.

Gentes partidas da ocidental praia de Portugal
Moldaram-se aos ímpetos caprichosos da tempestade
Erigindo sobre austero arquipélago o seu graal
E o significado açoriano nas pegadas da eternidade

Sobre a marca no cascalho basáltico do areal
Ventos e vendavais fustigam os bustos de sal
Sismos e vulcões que um credo sempre alcança
Somos nós, o povo açoriano, quem carrega a herança.


poema da obra: Ilhéu revolto

domingo, 19 de julho de 2015

Saudade

Saudade

A saudade vem,
Com uma lição de discordância.
É o eco nas gaivotas da lembrança,
Que a vida tem.

A saudade é sentir
O sublime toque da emoção
(Duma ausência que é estranha)
Que asfixia o coração
De tanto se ferir.

Saudade é memória propagada,
Numa folha arrancada
Perdendo-se na noção do tempo
Com o seu lento movimento.

Saudade é desejo de alguém
Sem se saber quem
É o virar duma página
E não conseguir ler
Com medo que se possa esquecer.

Saudade é a mão que segura o ventre
Quando desejo ter o sempre.
Fingir gostar duma dor acompanhar
Quando a angústia da separação é a devoção.

É sangue escorrendo pelos poros,
Saber que no passado será,
Como no futuro foi:
A tentação para os nossos corpos.

poema da obra: Ilhéu revolto

domingo, 12 de julho de 2015

Grego de Tessália

     Grego de Tessália


Harpias decaídas com o desejo na boca.
Asquerosos seres que escarram a vontade louca,
Da acrimónia e parcimónia entre o sal e o suado, 
Quando comem a carne crua de cavalo cansado.

Antes julgadas estátuas de ouro e esfinges de marfim. 
Hoje d’escárnios silfos dum putrefacto cheiro outonal, 
Com leprosos desejos regurgitados na bandeja do serviçal,
Devorando demoniacamente o decrépito desdém pelo delfim.

Ó Ser subserviente, que empunhas o punhal, 
Que rasga a carne sangrenta em ferida viva.
Que serves sem saberes a quanto o seu mal.

Esquece a pírrica vitória sobre as Simplégades,
Com argúcia foge aos vulcões de lava e suas manhas
Pára!…E alimenta-te tu das próprias entranhas…


poema da obra: Ilhéu revolto

domingo, 5 de julho de 2015

Tudo o que aquece


     Tudo o que aquece


À desventura do vento alado
Galga incessantemente o grito
Na corda desafinada dum instrumento
Que sulca sobre a terra rasgada.

Num risco que divide cada lado,
Entre os de cá e os de lá, levito!
Despojando no pensamento que voa ao vento
O intento da memória dita (a perniciosa amada).

Despolarizante, o impulso gerado no consciente
Do espaço sináptico que o encerra nesta cela
É aqui criada a reminiscência que sacia a fome:

- A memória é o espaço quiescente,
Entre o bramido da chama duma vela
E o oxido que a consome!


poema da obra: Ilhéu revolto