sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Açores lilás

     Açores lilás


Nos teus olhos carregados do oceano
Vejo o imenso azul neste humano.
Nos cabelos longos e flavescentes,
Vejo a sofreguidão dos adolescentes.

Nas extremidades do corpo esguio
Vejo eflúvio galáctico de emoções,
E elípticas turbulências de paixões  
De aroma balsâmico, em que me delicio

És nebulosa constelação de vontade insana, 
De planetas que gravitam em teu redor.
És pulsar brilhante de que sou sofredor. 
Assim vejo-te minha deusa humana!

Poema da obra: Ilhéu revolto

segunda-feira, 25 de julho de 2016

Moço de recados


     Moço de recados


Teu nome proibido,
Que ninguém o diga!
No âmago é sentido
E que a ingenuidade o siga!

É céu estrelado que mais brilha
No som da noite escura,
E reflexo tingido na imensidão da ilha
Que ao compassado coração cura.

Pequena inquietude murmurante
Repetidamente ditada ao ouvido
É na cabeça o desejo do amante
E na vontade o eco prometido.


poema da obra: Ilhéu revolto

quarta-feira, 20 de abril de 2016

Chopin- Noturno em Mi-bemol maior, Opus 9, N. 2 (instinto de sobrevivência)

Chopin- Noturno em Mi-bemol maior, Opus 9, N. 2
(instinto de sobrevivência)

Ao toque melífluo do relógio cavernoso
Que mais pareciam os gritos em tom jocoso
Das almas desconjuradas pelo inferno
Despenhava-se para o real hodierno

Anunciava-se a estridente hora do noturno
Protetora do pecado sinuosamente perpetrado
No corpo vertiginosamente soturno
Avesso ao querer do ser etéreo castrado

Acordava assim, imovelmente desamparado
Para o cheiro fétido do tenebroso teratismo
Que de olhos negros sobre o corpo debruçado
Ia devorando a alma do ilhéu pró abismo

Na última centelha prateada de luz
Que daquele cântico ilhéu se escapava
Inspirou-se no instinto visto na cruz
E assim, o tubarão com óculos, ele matava!

Poema da obra: Ilhéu Revolto

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Miosótis em tela

Miosótis em tela


Espreito por entre a cortina da alma
(Vssh! Vsssh! Vsssh!)
Vejo o que chove sobre terra molhada
(Vssh! Vsssh! Vsssh!)
Quando a pretensão em mim se pousa com calma
(Vssh! Vsssh! Vsssh!)
E desvendo a imensidão da minha amada

Enrosco-me no sentimento, aninhado em ti
(Tzaros! Tzaros! Tzaros!)
E polimerizo em quimeras tudo o que por nós senti.
(Tzaros! Tzaros! Tzaros!)
Sonho abraçar-te até fundirmo-nos num único ser
(Tzaros! Tzaros! Tzaros!)
E no desenho do manto de brumas, o tudo ter.

És mais que a simples floresta de uma árvore
(Chuác! Chuác!)
Mais que a pedra que enaltece o mármore
(Chuác! Chuác!)
Ou do orvalho escorrendo pelo miosótis

Serás mais que o sabor do mel brotando das pétalas
(Chuác! Chuác!)
Mais que fervoroso desejo em flor, na primavera:
(Chuác! Chuác!)
-Serás, no afago, o florescer que o desejo quisera!

poema da obra: Ilhéu revolto

domingo, 17 de janeiro de 2016

Funeral

Funeral


Sentimento de vinculação
Demonstra o lado animal
Será necessidade d’amor maternal?
Pede mais o bebé chorão.

Carregados de atos falhados.
Somos nós, os homens baralhados!
Jamais, obstinados, teremos o perdão.
Somos nós, os escravos desta condição!

Rasga-se o útero que a terra come
E assiste-se ao messias desfalecido
Será assim que o desejo se consome?

…Pergunto à gralha no cimo da capela
- Que decídua morte foi aquela?
- Grasna, Ó pobre bicho. Grasna ao vento da sorte!

poema da obra: Ilhéu revolto