sábado, 15 de agosto de 2015

No beijo que a ilha dá


     No beijo que a ilha dá


No outono há folhas que ficam e outras que caem!
Nas tarde enfadonhas de castanho,
O céu chora as que morrem,
E às que permanecem, acha estranho.

Na ilha, um barco vai abrindo as águas,
Inquietadas com um sopro invisível,
Que traz à boca todas as mágoas,
Mordendo os lábios com o impossível.

Um último apito ouve-se num cais,
Cheio de lenços brancos acenando o adeus
Mas o meu é vermelho, porque vais,
E não voltas, carregando a ilha, com sonhos meus.

Por entre os olhos despidos no barco,
Estás tu, disfarçando um último olhar,
Pousado sobre a baía esculpida em basalto
Negro dos corpos mortos.

É que aqui jazem as folhas que caem
E as lágrimas que me consomem
São a saliva do beijo que a ilha dá.


poema da obra: Ilhéu revolto

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