quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Fado

    Fado


Ao som da guitarra acústica, a portuguesa
Canta com espírito, o verdadeiro fado,
Dando à saudade um significado novo:
- O transparente sonho da incerteza.
Mas todas as noites, deita-se a meu lado,
Fatigada, exausta, de dar a voz ao povo.

Ao diurno, refugia-se no corpo de mulher,
Sedente, fraco, subjugado ao logro 
Da condição humanamente factual.

Da boca cerra o destino e acredita ver
O tempo que passa na brisa do sopro 
E devora a dupla relação pactual.

Ao nocturno e provocado sentimento ausente 
Nela, minha esfinge de mármore, me centro
E receio pelo nosso amor infinito e divinal  

Porém todas as noites ouço-a no café, 
Misturada no cheiro dos cigarros e vício nocturno.
Acompanhada é, com os acordes duma filosofia,
Que a guitarra vai trilhando num tenebroso anseio de fé.
- Canta ela, a voz translúcida que almejo, observo, taciturno.
Sei que o traslado do amanhã existirá: é ela Amália!


poema da obra: Ilhéu revolto

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